As pequenas histórias:

O Menino Sem Perna Que Voou mais depressa Que o Vento

Era quarta feira, mais uma igual a tantas outras. O José Manuel, colaborador da ESF e Embaixador de Sucesso pela Interweave Solutions ia começar a primeira sessão de algo que iria mudar a sua vida para sempre. 

Era um Master em Negócios de Rua (isso mesmo!). Aguardava que todos chegassem. Diziam-me que faltava o Vanzeller. Passados poucos minutos comecei a ouvir um ruido estranho. Era o Vanzeller que chegava de canadianas e sem uma perna ! Já me tinham falado nele mas nunca me falaram daquilo que os “ocidentais” chamam de deficiente. Não veio de elevador, subiu as escadas com uma força de braços como ninguém. Jamais esquecerei o sorriso completamente maroto e ao mesmo tempo inocente com que pediu para entrar na sala porque vinha atrasado.
1ª conclusão, há sempre alguém em pior estado que nós.

Vanzeller é de S. Tomé, aprendi muito com ele . O maior gozo de ensinar é aprender. A quantidade e variedade de peixes que existem nos mares de S. Tomé e alimentam o comércio local ! Até existe o peixe voador.
Um dia perguntei porque em Portugal não colocava uma prótese que substituísse a parte de baixo da perna. A rir-se respondeu: “isso era possível se tivessem cortado uns centímetros mais para baixo” !
Falava pouco, escrevia e lia pouco mas quando o fazia espantava-me porque afinal ele sabia – tínhamos era que o puxar e depois era uma maravilha. Alguns dias trazia uma criança com ele para a sala porque tomava conta dela e não a podia deixar em casa, nós aceitámos.

Um dia desiludido desabafou : nunca mais veem os papeis, não posso ir mais para o centro de Lisboa e apesar de não ter uma perna (ter prioridade), esperava horas em filas e mais filas.
Nesse dia disse-me que ía desistir e voltar a S. Tomé. Disse-lhe que a perna dele precisava de cuidados médicos que não tinha lá e depois descobri que vibrava com o Benfica – era quase tudo para ele. Combinámos quando acabássemos o curso íamos ver o Benfica jogar, ficou delirante. Assim se passaram mais algumas semanas e sempre o motivei com tudo o que tinha de bom o nosso país. Participou no trabalho final e 3 semanas antes de terminar o curso, desapareceu. Fomos procurá-lo descobrimos uma amiga, algures nas Galinheiras. Disse-nos que ele tinha regressado á “terra” (S. Tomé). Tentei perceber. Porque não me disseram, como formador faria tudo para ele não sair de Portugal. Responderam-me: exactamente por isso é que ele foi sem lhe dizer nada, porque sabia que depois de uma boa aula ele iria adiar o regresso a S. Tomé, como já tinha feito duas vezes, enquanto se pensava em soluções.

Vanzeller regressou á sua terra, sem perna mas de forma mais rápida que o vento.

Cerca de um mês mais tarde, ás 7 da manha tocou-me o telefone, era o Vanzeller dizendo que já estava na baia a vender peixe voador em S. Tomé. Qua maravilhosa surpresa, e disse-me, agora é o José que tem que vir a S. Tomé porque preciso com urgência do Diploma e fundamentalmente de uma camisola do Pizzi porque no Natal fica muito bem o vermelho do nosso Benfica … sem palavras   (continua … )

Vanzeller, és um Senhor !

Vanzeller Mezger da Costa Fonseca Pedroso (S. Tomé)

 

Relato de José Manuel dos Santos